O OCEANO QUE SOIGNE
Caminhos terapêuticos para o futuro
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As peculiaridades dos organismos marinhos
O Oceano é o berço da vida no nosso planeta. Ainda acolhe uma vida extremamente variada: 34 dos 36 filos existentes, dos quais 14 permaneceram exclusivamente marinhos, 300.000 espécies conhecidas e ainda espécies mais desconhecidas.
As peculiaridades dos organismos marinhos fazem dela uma reserva ainda pouco explorada de vias terapêuticas para o futuro.
Exemplos de moléculas extraídas de organismos vivos abundam, usadas como agentes anticancerígenos, antimicrobianos, antivirais, anti-inflamatórios, antidiabéticos, antihipertensivos, anticoagulantes, antioxidantes. Das 145.000 a 150.000 substâncias naturais descritas, estima-se que cerca de 25.000 produtos de interesse farmacológico ou cosmético já tenham sido obtidos a partir de organismos marinhos, dos quais mais de 30% são produzidos por esponjas. Este número aumentou nas últimas décadas, sugerindo que muitas novas soluções serão introduzidas no mercado num futuro próximo.
A energia não vem mais do sol
É que as condições a que os animais marinhos são expostos (sim, em termos de biomassa, o Oceano é antes o domínio dos animais, enquanto o ambiente terrestre é mais do que o das plantas) são tão diversos quanto originais. No abismo mergulhado na noite eterna, os ecossistemas são organizados em torno de nascentes hidrotermais. A energia já não vem do sol, mas da química destas águas muito quentes, carregadas de enxofre e minerais. Em águas polares, os peixes e os invertebrados resistem a temperaturas à volta de 0°C. E em todo o mundo, os animais ligados ao fundo devem, porque não conseguem escapar aos predadores, desenvolver um arsenal biológico para se defenderem e preservarem o seu espaço.
uma corrida de armas químicas
Durante milhões de anos, o ambiente marinho e, em particular, o recife de coral têm vivido uma corrida por armas químicas! Num ambiente altamente competitivo, os organismos produzem metabolitos e mediadores químicos que desempenham um papel fundamental na estruturação e funcionamento dos ecossistemas, por exemplo na competição pelo espaço, na colonização de superfícies, na defesa contra a predação, na sedução para a reprodução, etc. Estes atrativos ou repelentes são de grande interesse em diferentes áreas de química para a vida (saúde humana e animal, cosméticos, fitofarmácia, tintas antifouling…).
O primeiro trabalho significativo na química das substâncias naturais marinhas foi o do Professor Werner Bergmann, em 1951, que se isolou de uma esponja da Flórida de nucleosides incomuns (elementos constituintes de ácidos nucleicos, ADN e ARN) que os farmacochemistas tiveram a ideia de usar para o desenho de moléculas antitumorais. Em 1969, os investigadores descobriram quantidades significativas de uma prostaglandina (moléculas capazes de causar ou estimular contrações do útero) num homomalla do gorgon das Caraíbas que a indústria farmacêutica estava a lutar para sintetizar. Hoje, a maioria das moléculas de origem marinha no desenvolvimento clínico destinam-se ao tratamento de cancros, ou à luta contra vírus.